quarta-feira, 30 de março de 2011

Arquitetura do Renascimento

Chama-se de Arquitetura do Renascimento ou renascentista àquela que foi produzida durante o período do Renascimento europeu, ou seja, basicamente, durante os séculos XIV, XV e XVI. Caracteriza-se por ser um momento de ruptura na História da Arquitetura em diversas esferas: nos meios de produção da arquitetura; na linguagem arquitetônica adotada e na sua teorização. Esta ruptura, que se manifesta a partir do Renascimento, caracteriza-se por uma nova atitude dos arquitectos em relação à sua arte, passando a assumirem-se cada vez mais como profissionais independentes, portadores de um estilo pessoal. Inspiram-se, contudo, na sua interpretação da Antiguidade Clássica e em sua vertente arquitetônica, considerados como os modelos perfeitos das Artes e da própria vida.

É também um momento em que as artes manifestam um projeto de síntese e interdisciplinaridade bastante impactante, em que as Belas Artes não são consideradas como elementos independentes, subordinando-se à arquitetura.

   1. Século XV e início do XVI. Considerado o período da Alta Renascença, no qual atuam arquitetos como Donnato Bramante e Leon Battista Alberti.

Periodização

A história da arquitetura do Renascimento, como um todo, costuma ser dividida em dois grandes períodos:

   1. Século XIV e início do XV. Neste primeiro momento destaca-se a figura de Filippo Brunelleschi e uma arquitetura que se pretende classicista, mas ainda sem o referencial teórico e, principalmente, a canonização, que caracterizará o período seguinte.
   2. Século XVI. Neste momento, as características individuais dos arquitectos já começam a sobrepor-se às da canonização clássica, o que irá levar ao chamado Maneirismo. Atuam arquitectos como Michelangelo, Andrea Palladio e Giulio Romano.

Características gerais

A arquitetura do Renascimento está bastante comprometida com uma visão de mundo assente em dois pilares essenciais: o Classicismo e o Humanismo. Além disso, vale lembrar que, ainda que ela surja não totalmente desvinculada dos valores e hábitos medievais, os conceitos que estão por trás desta arquitetura são os de uma efetiva e consciente ruptura com a produção artística da Idade Média (em especial com o estilo gótico).

História da Arquitetura Renascentista

É comum atribuir o momento de gênese da arquitetura do Renascimento à construção da cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore em Florença, por Brunelleschi. Tal episódio não representa apenas uma mera mudança no perfil estilístico que predominava no cenário arquitetônico florentino, mas demonstra a ruptura que o Renascimento viria a representar na própria forma de produzir a arquitetura, abrindo caminho para não só a redescoberta do Classicismo, como para a promoção da tratadística. Leonardo Benevolo afirma que Brunelleschi estabelece um novo método de trabalho ao, entre outras coisas, separar o projetista do construtor.

O fato de a importância de Brunelleschi manifestar-se de forma mais importante no campo do fazer arquitetônico que no do estilo torna-se mais clara quando, observando-se o conjunto de sua obra, percebe-se que ele, mesmo que desejasse seguir a canonização clássica, produzia ainda uma arquitetura não completamente comprometida com as regras clássicas, fato decorrente principalmente de não ter conhecimento profundo das normas clássicas, que conhecia mais pela experiência que pela prática. Entretanto, é ele quem inicia uma tradição de arquitetos que não mais está ligada às corporações de ofícios e cujos profissionais irão cada vez mais (mesmo que, efetivamente, pouco durante o Renascimento) afirmar-se como intelectuais afastados da construção propriamente dita. Alguns[nota 1] críticos que analisam esse fenômeno sob a óptica marxista identificam, aí, o momento em que a futura burguesia toma das classes populares o domínio dos meios de produção (que deixa de ser o poder de "construir" e passa a ser o poder de "desenhar"), possibilitando um processo de exploração do Proletariado pelo Capital que tornar-se-á evidente após a Revolução Industrial.


A cúpula da Santa Maria del Fiore



Santa Maria del Fiore foi uma catedral executada em estilo tardo-românico cuja construção consumiu diversas gerações (foi iniciada por Arnolfo di Cambio em 1296 e interrompida com sua morte em 1302, retomada por Francesco Talenti em 1337 estendendo-se até as primeiras décadas do século XV. Quando da morte de Brunelleschi, em 1446, ainda não estava concluída). Não foi "projetada": seu desenho e sua execução ocorreram de forma paralela. Ainda que existisse um plano geral para sua forma e sua distribuição interna, os detalhes construtivos, segundo a prática construtiva medieval, foram sendo resolvidos à medida que eram feitos, no próprio local. Previa-se, portanto, a existência de uma cúpula sobre um determinado ponto da igreja, mas o projeto da cúpula não estava definido de antemão. Quando chegou o momento de erigi-la, os artesãos florentinos depararam-se com um vão de mais de quarenta metros, impossível de ser vencido através das técnicas construtivas tradicionais.

A solução encontrada (em 1418, quando a República de Florença já demonstrava claras intenções de manifestar seu poder econômico na arquitetura de sua cidade, funcionando a catedral, portanto, quase como um "cartão-de-visitas") foi promover uma espécie de concurso de idéias para a conclusão da cúpula, cujos ganhadores foram Brunelleschi e Lorenzo Ghiberti, em um projeto conjunto. Brunelleschi, na época, já era um artesão relativamente reconhecido e aceitou o desafio. Decidiu, porém, viajar até Roma ao invés de tentar solucionar o problema ali mesmo. Roma era naquele período o local, em todo o mundo, cujas ruínas da Antiguidade Clássica mais estavam visíveis, e quase que integradas à paisagem "natural". A principal fonte de inspiração para Brunelleschi revelou-se no Panteão daquela cidade: uma estrutura com um vão similar ao de Santa Maria del Fiore vencido com uma cúpula em arco pleno. Brunelleschi não só observou a solução construtiva existente no panteão como começou a estudar as relações estilísticas, proporcionais e formais entre os vários elementos que compunham aquele espaço. É efetivamente nesta atitude que o espírito do Renascimento começa a se manifestar: o indivíduo observa uma determinada realidade e através de um desejo, uma intenção, interfere naquela realidade buscando as soluções para os problemas de sua própria realidade. Brunelleschi ainda não tem consciência plena da teoria clássica por trás das obras da Antiguidade, mas reconhece nelas um modelo estilístico que por ele será usado para construir sua própria arquitetura.

Com o pensamento marxista Brunelleschi decidiu voltar a Florença para assim dar continuidade em sua escultura com forma de leão.

Voltando a Florença, munido de uma experiência clássica inédita até então, Brunelleschi propõe uma solução para a cúpula, munido de toda a inventividade que caracterizará o Renascimento, baseando-se em suas pesquisas em Roma. Brunelleschi não se limita a "copiar" as soluções romanas, mas propõe uma totalmente nova: sua cúpula será a primeira cúpula em estrutura octogonal da História da arquitetura. Tal foi o impacto da nova cúpula na cidade de Florença que a imagem da catedral passou a ser elemento fundamental na própria constituição da cultura da cidade,vindo a própria catedral a ser conhecida popularmente como Duomo.


 Domínio da linguagem clássica

Brunelleschi, portanto, ficará conhecido na história como o responsável por traçar o caminho em que praticamente todos os arquitetos do Renascimento trilharão suas obras. Porém, como já foi citado acima, ele ainda não tinha pleno domínio sobre as várias ordens sistematizadas da linguagem arquitetônica clássica, o que se verifica quando ele próprio acaba "criando" uma linguagem individual, na qual os elementos clássicos transparecem mas não respondem ao ordenamento antigo.


 Típica igreja de planta central, tipologia disseminada no Renascimento.




Os arquitetos que ficam responsáveis por herdar o caminho por ele traçado, não por acaso, são responsáveis pela busca do ordenamento e do cânone. O domínio do Classicismo ocorrerá de fato ao longo do século XIV (ainda que a sua sistematização plena só se dê com a publicação do tratado de Serlio no século seguinte), e terá na pessoa de Donato Bramante uma figura paradigmática. Neste momento (e, especialmente, após a teorização da arquitetura proposta por Alberti no seu tratado De re aedificatoria), já existe uma consciência bastante forte dos constituintes formais da arquitetura grega e romana: as possibilidades de composição, as soluções encontradas e a síntese espacial é, em geral, conhecida. Desta forma, os arquitetos renascentistas têm à sua disposição todo o potencial criativo oferecido pela linguagem e o espírito da época, podendo vir a manifestar-se, potencialmente, através, não da cópia dos clássicos, mas de sua superação.

É justamente na obra de Bramante que este espírito se concretiza de uma forma mais íntegra - e aí justifica-se destacá-lo frente aos seus contemporâneos. Bramante prova, através do projeto de palácios e igrejas, que não só conhece e domina as possibilidades da linguagem clássica como também entende as características e o espírito de sua época, aplicando o conhecimento antigo de uma forma nova, inédita, mas acima de tudo, clássica. O Tempietto, por ele projetado, é, praticamente, uma releitura (mas, definitivamente, não uma cópia) dos templos de planta central, circulares, típicos de um certo período da arquitetura romana. Mais tarde, o arquiteto inglês Christopher Wren releria a obra de Bramante e a proporia sob uma nova forma em seu país, sem, no entanto, copiá-lo: o processo de caráter renascentista, como se vê, vai além da estética dos edifícios e incorpora o pensamento arquitetônico.

O Tempietto ("pequeno templo") de Bramante, igreja de planta central paradigmática do Renascimento.

Bramante também populariza uma linguagem que (como já se ressaltou, é plenamente clássica) foi por ele desenvolvida e explorada. Inspirada nos arcos triunfais romanos, as características compositivas destes são aplicados aos projetos de palácios. A principal imagem deste "estilo bramantiano" é a tríade de aberturas adornadas com arcos de volta inteira, sendo que dois deles estão a uma mesma altura, com o central maior.
A superação dos clássicos, mantendo porém o caráter clássico, se dá especialmente na medida em que os arquitetos do período propõem soluções espaciais em programas novos (como os grandes palácios, diferentes dos romanos, ou as novas catedrais e basílicas). Elementos como as abóbadas e cúpulas são usados de uma nova forma, ainda que as ordens (jônico, coríntio, etc) sejam formalmente seguidas.

terça-feira, 29 de março de 2011

A superação do classicismo

À medida que o domínio da linguagem clássica evoluía, foi crescendo nos arquitetos renascentistas um certo anseio de libertação formal das regras do Classicismo, de forma que o eventual desejo de sua superação (que sempre existiu em maior ou menor grau) se tornasse um elemento fundamental na nova produção de tais indivíduos. Tal fenômeno, considerado já como um prenúncio de um movimento estético que, cem anos mais tarde, se concretizaria no barroco, ganharia força especialmente nas primeiras décadas do século XVI - praticamente depois de mais de cento e cinqüenta anos de produção arquitetônica dita "renascentista". Este já é um momento (século XVI) em que a tentativa de sistematizar o conhecimento dos cânones clássicos está plenamente efetivada, através de tratados como o de Serlio e Vignola. Desta forma, os elementos compositivos do Classicismo já não mais são usados nas obras arquitetônicas como experimentação em busca do clássico, mas, partindo de sua plena consciência, em busca de sua inovação.


Arquitetura de uma villa renascentista.


Em um primeiro momento, as regras clássicas de composição ainda são fielmente seguidas, mas seu campo de aplicação se amplia e vai além das grandes obras públicas, dos grandes palácios e templos religiosos (os edifícios ditos "nobres", dignos de receberem o status de arquitetura segundo a perspectiva clássica) e novas combinações de elementos são propostas. Andrea Palladio será o principal expoente desta forma de lidar com a linguagem clássica, especialmente através dos seus projetos de villas nos arredores das cidades italianas. A arquitetura de Palladio foi de tal forma peculiar e destacada da de seus antecessores que seu método projetual acabou levando à caracterização de um novo estilo: o Paladianismo. Tal estilo se apresenta pela aplicação da planta central aos projetos residenciais (como nos das villas), por um certo tipo de ornamentação bastante sintética (uma arquitetura de "superfície"), entre outras características. O próprio Palladio é responsável por produzir um tratado bastante completo sobre a arquitetura clássica, no qual expõe seu modo de pensar e sua perspectiva sobre a questão.


Típica arquitetura paladiana.


Maneirismo

O maneirismo foi o movimento artístico ocorrido no Cinquecento (e cuja formalização se deu especialmente nas décadas de 1510 e 1520) que evidenciou o desejo, por parte dos arquitetos, humanistas e artistas do período, de uma arte que, ainda que, em essência, se utilizasse dos elementos clássicos, possuísse um conteúdo bastante anticlássico. O maneirismo será, portanto, este segundo momento de confronto da arquitetura clássica, já integralmente conhecida.
Os dois principais expoentes do período são Michelangelo e Giulio Romano. Em suas obras, são constantes as referências e citações aos elementos e princípios compositivos clássicos, mas sempre de forma desconstrúida e quase irônica. Voltam-se para o interior padrões decorativos de janelas que deveriam estar colocadas em ambientes externos, criam-se ambientes cênicos em espaços internos que remetem a situações de exterior, brinca-se com os efeitos de ilusão óptica proporcionados pela perspectiva, através de jogos dimensionais inusitados, etc.


Difusão da arquitetura renascentista na Europa

O Renascimento caracterizou-se como um movimento praticamente restrito ao universo cultural italiano durante seus dois primeiros séculos de evolução (entre os séculos XIV e XVI, aproximadamente), período durante o qual, no restante da Europa, sobreviviam estilos arquitetônicos, em geral, ligados ao gótico ou ao tardo-românico. No seu auge, na Itália, porém, a estética clássica começou a ser difundida em diversos países europeus devido a motivos diversos (como guerras, anexações de territórios, pelo fato de os artistas italianos viajarem pela Europa ou serem contratados por cortes diversas).

Independente das razões, é certo que esta difusão fatalmente se dará já pela assimilação de certos ideais anticlássicos trazidos pelo maneirismo, estilo em voga naquele momento (início do século XVI). É um momento em que a tratadística clássica está plenamente desenvolvida, de forma que os arquitetos, de uma forma geral, possuem um bom domínio das regras compositivas clássicas e de sua canonização, o que lhes permite certa liberdade criativa. Esta leve liberdade de que gozam os artistas do período será naturalmente absorvida pela produção renascentista dos países fora do espectro cultural italiano. Há que se notar, porém, que existem estudiosos que não consideram o maneirismo como um movimento ligado ao Renascimento, mas um estilo novo e radicalmente contrário a este. Desta forma, a produção dita maneirista dos demais países europeus pode vir, eventualmente, a não ser considerada como uma arquitetura genuinamente renascentista. Em certo sentido é possível dizer, segundo tal ponto de vista, que tais países "pularam" diretamente de uma produção tipicamente medieval para uma arquitetura pós-renascentista (como na França).

Como as formas de difusão diferem de país para país, ainda que a arquitetura produzida por aqueles países neste momento seja efetivamente renascentista, existe um Renascimento diferente para cada região da Europa (pelo menos do ponto de vista arquitetônico). Será possível falar em um Renascimento francês, um Renascimento espanhol e um Renascimento flamenco, por exemplo.

Em Portugal, as formas clássicas difundir-se-ão apenas durante um breve período, sendo logo substituídas pela arquitetura manuelina, uma espécie de releitura dos estilos medievais e considerada por alguns como o efetivo representante do Renascimento neste país, ainda que prossiga uma estética distante do classicismo (insere-se, de fato, no Estilo gótico tardio).




A Queen's House (1616), em Londres é exemplar da difusão tardia da arquitetura renascentista nos demais países europeus.

segunda-feira, 28 de março de 2011

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EXEMPLOS DE ARQUITETURA RENASCENTISTA
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Os arquitetos do renascimento conseguiram, mediante a medição e o estudo de antigos templos e ruínas, assim como pela aplicação da perspectiva, chegar à conclusão de que uma obra arquitetônica completamente diferente da que se vira até então não era nada mais que pura geometria euclidiana. O módulo de construção utilizado era o quadrado, que aplicado ao plano e ao espaço deu às novas edificações proporções totalmente harmônicas.
As ordens gregas de colunas substituíram os intermináveis pilares medievais e se impuseram no levantamento das paredes e na sustentação das abóbadas e cúpulas. São três as ordens mais utilizadas: a dórica, a jônica e a coríntia, originadas do classicismo grego. A aplicação dessas ordens não é arbitrária, elas representam as tão almejadas proporções humanas: a base é o pé, a coluna, o corpo, e o capitel, a cabeça.

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EXEMPLOS DE CAPITÉIS SEGUNDO AS ORDENS CLÁSSICAS
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As primeiras igrejas do renascimento mantêm a forma da cruz latina, o que resulta num espaço visivelmente mais longo do que largo. Entretanto, para os teóricos da época, a forma ideal é representada pelo plano centralizado, ou a cruz grega, mais frequente nas igrejas do renascimento clássico.

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EXEMPLOS DE IGREJAS RENASCENTISTAS
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As obras da arquitetura profana, os palácios particulares ou comunais, também foram construídas com base no quadrado.
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Palácio Vázquez de Molina
Úbeda, Jaén
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Palácio de Carlos V
Alhambra, Granada


Vistos de fora, esses palácios se apresentam como cubos sólidos, de tendência horizontal e com não mais de três andares, articulados tanto externa quanto internamente por colunas e pilares. Um pátio central, quadrangular, tem a função de fazer chegar a luz às janelas internas. A parede externa costuma receber um tratamento rústico, sendo a almofadilha mais leve nos andares superiores. A ordem das colunas varia de um andar para outro e costuma ser a seguinte: no andar térreo, a ordem toscana, uma variante da arquitetura romana; no pavimento principal, a jônica; e no superior, a coríntia. A divisão entre um nível e outro é feita por diferentes molduras e uma cornija que se estende por todo o piso de cada andar, exatamente abaixo das janelas. Têm geralmente forma retangular e são coroadas por uma finalização em arco ou triângulo.

domingo, 27 de março de 2011

A Escultura Renascentista


Donatello, Estátua eqüestre
Os valores greco-romanos ganham maior importância no século XIII. O italiano Niccolò Pisano se empenhou na reformulação dos padrões góticos. Mantendo motivos religiosos, mas com expressões humanas, assinalou o início do Renascimento na escultura.

Nos séculos XIV e XV, cresce a admiração pelos clássicos e o culto ao ser humano. Donatello foi um grande escultor, que introduziu o humanismo, precedendo o naturalismo e a glorificação do nu.

O auge da escultura renascentista, contudo, são observadas as obras de Michelangelo, que utilizou enormes blocos de mármore e deixou obras de grande porte e beleza, influenciadas pelos ideais estéticos helenísticos, tais como seu Davi e a Pietá.

Tornou-se famoso também na pintura. Procurava expressar pensamentos em suas esculturas, buscando efeitos vigorosos na emoção e alcançando grande vitalidade em seus trabalhos. Estudou a figura humana com empenho, nas formas mais diversas de expressão, posição e atitude. É considerado precursor do Barroco, devido à força de expressão das suas obras.

Davi, 1444-46, bronze, 158 cm,
Museu Nacional do Bargello
Florença, Itália
Tanto Donatello quanto Michelangelo esculpiram a figura de Davi.
O Davi de Donatello é feito de bronze e considerado o primeiro nu artístico com notável inspiração helênica.
Já o Davi de Michelangelo foi elaborado em mármore com grande inspiração helenística.

Na escultura renascentista, desempenham um papel decisivo o estudo das proporções antigas e a inclusão da perspectiva geométrica. As figuras, até então relegadas ao plano de meros elementos decorativos da arquitetura, vão adquirindo pouco a pouco total independência. Já desvinculadas da parede, são colocadas em um nicho, para finalmente mostrarem-se livres, apoiadas numa base que permite sua observação de todos os ângulos possíveis.

O estudo das posturas corporais traz como resultado esculturas que se sustentam sobre as próprias pernas, num equilíbrio perfeito, graças à posição do compasso (ambas abertas) ou do contraposto (uma perna na frente e a outra, ligeiramente para trás). As vestes reduzem-se à expressão mínima, e suas pregas são utilizadas apenas para acentuar o dinamismo, revelando uma figura humana de músculos levemente torneados e de proporções perfeitas.

Outro gênero dentro da escultura que também acaba sendo beneficiado pela aplicação dos conhecimentos da perspectiva é o baixo-relevo (escultura sobre o plano). Empregando uma técnica denominada schiacciato, Donatello posiciona suas figuras a distâncias precisas, de tal maneira que elas parecem vir de um espaço interno para a superfície, proporcionando uma ilusão de distância, algo inédito até então.

Desse modo, ao mesmo tempo que se torna totalmente independente da arquitetura, a escultura adquire importância e tamanho. Reflexo disso são as primeiras estátuas eqüestres que dominam as praças italianas e os grandiosos monumentos funerários que coroam as igrejas. Pela primeira vez na história, sem necessidade de recorrer a desculpas que justificassem sua encomenda e execução, a arte adquire proporções sagradas.

Principais Características

- Buscavam representar o homem tal como ele é na realidade
- Proporção da figura mantendo a sua relação com a realidade
- Profundidade e perspectiva
- Estudo do corpo e do caráter humano

sábado, 26 de março de 2011

Teatro Renascentista

Do século XV ao XVI. Prolonga-se, em alguns países, até o início do século XVII. O teatro erudito, imitando modelos greco-romanos, é muito acadêmico, com linguagem pomposa e temática sem originalidade. Mas, em vários países, o teatro popular mantém viva a herança medieval. As peças são cheias de ação e vigor, e o ser humano é o centro das preocupações.

Itália

Em reação ao teatro acadêmico surgem, na Itália, a pastoral, de assunto campestre e tom muito lírico (''Orfeo'', de Angelo Poliziano); e a commedia dell'arte. As encenações da commedia dell'arte baseiam-se na criação coletiva. Os diálogos são improvisados pelos atores, que se especializam em personagens fixos: Colombina, Polichinelo, Arlequim, o capitão Matamoros e Pantalone. Os cenários são muito simples - um telão pintado com a perspectiva de uma rua. Na commedia, surgem atrizes representando mulheres. Mais tarde, comediógrafos como Molière, Marivaux, Gozzi e Goldoni vão inspirar-se em seus tipos.
A primeira companhia de commedia dell'arte é I Gelosi (os ciumentos), dos irmãos Andreini, fundada em 1545. Como autor deste período destaca-se Maquiavel. Sua peça ''A mandrágora'', é considerada uma das melhores comédias italianas.

Inglaterra

O teatro elizabetano tem seu auge de 1562 a 1642. As peças caracterizam-se pela mistura sistemática de sério e cômico; pelo abandono das unidades aristotélicas clássicas; pela variedade na escolha dos temas, tirados da mitologia, da literatura medieval e renascentista, e da história; e por uma linguagem que mistura o verso mais refinado à prosa mais descontraída.

Autores elizabetanos

O maior nome do período é o de William Shakespeare. Além dele se destacam Christopher Marlowe ''Doutor Fausto'', Ben Jonson ''Volpone'' e Thomas Kyd ''Tragédia espanhola''.
William Shakespeare (1564-1616) nasce em Stratford-upon-Avon e mora em Londres durante parte da vida. Alguns historiadores contestam a autoria de sua obra por a acharem muito culta para um homem que não pertencia à nobreza. Mas a maioria dos críticos o considera o maior dramaturgo de todos os tempos. Sua técnica é extremamente pessoal e sintonizada com sua época. Em suas tragédias ''Romeu e Julieta'', ''Macbeth'', ''Hamlet'','' Rei Lear'' ou ''Otelo'', comédias ''A tempestade'', ''A megera domada'', ''Sonhos de uma noite de verão'' ou dramas históricos ''Henrique V'', demonstra uma profunda visão do mundo, o que faz com que sua obra exerça influência sobre toda a evolução posterior do teatro .


Espaço cênico elizabetano

A casa de espetáculos, de forma redonda ou poligonal, tem palco em até três níveis para que várias cenas sejam representadas simultaneamente. Circundando o interior do edifício, num nível mais elevado, ficam as galerias para os espectadores mais ricos. Os mais simples ficam em pé, quase se misturando aos atores no nível inferior do palco. Uma cortina ao fundo modifica o ambiente.

Espanha

Entre os séculos XVI e XVII o teatro espanhol chega ao apogeu. As regras eruditas são desprezadas e as formas originárias das apresentações populares são incorporadas em peças de ritmo rápido, com ações que se entrecruzam. Temas mitológicos, misturados a elementos locais, estão impregnados de sentimento religioso.

Autores espanhóis

Destacam-se Fernando Rojas (Celestina), Miguel de Cervantes (Numância), Felix Lope de Vega ''O melhor juiz, o rei'', Pedro Calderón de la Barca ''A vida é sonho'' e Tirso de Molina ''O burlador de Sevilha''.

Espaço cênico espanhol

As casas de espetáculos são chamadas de corrales, pois o palco, em diversos níveis e sem cenários, fica no centro de um pátio coberto.


Quando a Idade Média chegou ao fim, a situação do teatro já era bem melhor e ia começar uma fase ainda mais própria com o Renascimento, como é chamada a época que se seguiu às grandes navegações, aos descobrimentos de novas terras, à invenção da imprensa e divulgação das grandes obras da antiguidade, traduzidas para os idiomas europeus. As universidades, que eram poucas na Idade Média, se multiplicaram. Houve um florescimento extraordinário da arquitetura, da pintura, da escultura e também do teatro. Na Alemanha, um simples sapateiro, chamado Hans Sachs, tomado de paixão pelo teatro, escreveu numerosas tragédias, dramas, comédias e alegorias, ora explorando temas gregos, como de Clitemnestra, ora temas bíblicos. Na Itália, o poeta Ludovico Ariosto escreveu comédias encenadas na corte de Ferrara e o florentino Nicolo Machiavelli compôs uma das obras-primas do teatro renascentista italiano, A Mandrágora (La Mandragora), ainda hoje representada e convertida em filme. No século XVI, chegou ao apogeu, na Itália, a Commedia dell'Arte, assim chamada porque nela, o talento e a capacidade de improvisação dos artistas sobrepujavam o texto literário. A Commedia dell'Arte tinha personagens fixos, tais como Arlequim, Scaramuccia, Brighela, Pantalone, etc., os quais desenvolviam sua representação de acordo com as características de tais tipos. Os autores escreviam apenas um breve resumo da intriga, fixando a linha geral das situações, ou acontecimentos, e deixando o diálogo inteiramente por conta dos interprétes. Além de hábeis improvisadores, os artistas da Commedia dell'Arte eram também grandes mímicos, transmitindo a comicidade tanto por suas palavras, como por gestos e atitudes. Graças a isso, a Commedia dell'Arte conseguiu fazer sucesso, por longo tempo, na França, influenciando bastante o teatro francês. Ao mesmo tempo que surgiam atores de talento e melhorava a qualidade das representações, realçadas por cenários pintados, um grande arquiteto italiano, Andrea Paládio, iniciava a construção do primeiro teatro coberto, onde era possível representar com qualquer tempo, mesmo com chuvas ou quedas de neve, para um público de 3 mil pessoas. Foi esse o Teatro Olímpico, de Vicenza, no norte da Itália, perto de Veneza, completado por seu discípulo Vicenzo Scamozzi em 1588 - oito anos após sua morte - e até hoje preservado como monumento histórico.
Quando a Itália já tinha seu primeiro teatro coberto, verdadeiro primor da arquitetura, apresentando no palco, em perspectivas, as ruas de uma cidade, como cenário fixo, em outros países as representações continuavam a ser feitas ao ar livre. Na Espanha, por exemplo, eram realizadas em pátios de estalagens, estábulos e currais abandonados. Era o que fazia a primeira companhia profissional espanhola, organizada pelo autor, ator e empresário Lope de Rueda. Os primeiros teatros de Madrid tiveram nomes como Corral de la Pacheca e Corral de la Cruz, por terem sido estabelecidos em velhos currais. O primeiro teatro coberto de Madrid foi o Corral de la Pacheca, onde se estabeleceu uma companhia italiana que, não querendo perder dinheiro na estação chuvosa, construiu um teto sobre o palco e parte da platéia. Em 1582, o Corral de la Pacheca foi reconstruído, como um autêntico edifício, trocando então o nome não para teatro, mas para Corral del Principe. O Corral de la Cruz, construído em 1579 como teatro aberto, mas com algumas novidades, como a colocação de camarotes e de uma seção só para mulheres, procurou adaptar-se ao novo estilo. Depois de Lope de Rueda, surgem na Espanha outras figuras importantes da dramaturgia, a começar por Juan de la Cueva e foi autor de inúmeras peças, uma das quais era ainda muito representada no século passado, Os Sete Infantes de Lara. Outro autor da mesma época foi Miguel de Cervantes, autor do drama Cativeiro em Argel, sobre suas próprias aventuras como prisioneiro dos argelinos, e a tragédia O Cerco de Numância, além de numerosos entremeses, ou peças. Mas a fama do romancista de Dom Quixote de la Mancha obscurecem quase inteiramente sua atividade teatral.
A chamada "idade de ouro" do teatro espanhol começa verdadeiramente com Lope Félix de Vega Cárpio, ou simplesmente Lope de Vega, que escreveu centenas de peças, algumas das quais permanecem vivas e interessantes ainda hoje., como Fuente Ovejuna e El Perro del Hortelano. Na sua febre de produção, ele se valia de toda espécie de escritos alheios, uns tirados da bíblia, outros da mitologia, da história, das crônicas, baladas, lendas, vidas de santos, etc. Entre seus continuadores está Guillén de Castro, nascido em 1569, sete anos depois de Lope de Vega, mas desaparecido quatro anos antes deste, no ano de 1631. Guillén de Castro é lembrado principalmente pelas peças que escreveu sobre Rodrigo Dias de Bivar, mas conhecido como "El Cid", uma dela intitulada Las Mocedades de El Cid. Foi autor também de Alarcos e fez uma dramatização de Dom Quixote. Juan Ruiz Alarcón y Mendoza, conhecido apenas como Alarcón, nascido no México em 1580, mas criado e educado na Espanha, escrever cerca de vinte comédias, entre as quais A Verdade Suspeita (La Verdad Sospechosa), que seria depois intitulada na França e na Itália. Tirso de Molina pôs em cena a figura de Don Juan em El Burlador de Sevilla (burlador tem o sentido de enganador ou sedutor). outro espanhol Luís Vélez de Guevara, dramatizou a tragédia de Inês de Castro, sob o título de Reinar Depois de Morrer.
Os teatros na Inglaterra continuavam a ser abertos, representando os atores numa plataforma e ficando o público de pé, perto desta, ou ao fundo, sentado em três galerias dispostas em semicírculo. Ainda assim, foi extraordinário o florescimento desse teatro, sob o reinado da Rainha Elizabeth I. Prevalecia, naquele país, o mais arraigado preconceito contra a profissão teatral, só exercida pelos homens. Os papéis femininos eram representados por rapazes, que se vestiam como mulheres, imitando a voz e os ademanes destas. Os atores eram considerados vadios e vagabundos. E, para não serem incomodados pela polícia, tinham de obter proteção de altas personalidades da nobreza britânica, que os empregavam como seus criados e, por isso, fora do palco, vestiam a libré da criadagem desses nobres.
Os autores desse período ficaram conhecidos como os "dramaturgos elisabetanos". Dentre eles, o mais notável foi Willian Shakespeare, nascido em Stratford em 1564 e desaparecido em 1616. Deixou ele cerca de 35 peças - dramas históricos, tragédias e comédias - ainda hoje representados com sucesso pelos mais famosos artistas, tanto na Inglaterra como no resto do mundo.
Do mesmo modo que o espanhol Lope de Vega, Shakespeare se valeu de diversas fontes - crônicas históricas, biografias escritas por Plutarco, contos e novelas de autores italianos, bem como peças escritas por seus antecessores. Assim, comoveu o mundo com a história dos amores trágicos de Romeu e Julieta, de Otelo e Desdêmona, com as tragédias do Rei Lear, de Hamlet e de Macbeth, do mesmo modo que fez rir com as alegres peripécias das Alegres Comadres de Windsor, com os quiproquós de A noite de Reis, com os hilariantes incidentes de A Megera Domada e várias outras comédias. Fez ressurgir do passado as figuras de Júlio César e Coriolano, infundindo extraordinário vigor dramático aos estudos biográficos de Plutarco. E apresentou um mundo mágico, cheio de poesia e de fantasia, em A Tempestade.
Entre os seus contemporâneos, um dos que mais se distinguiram foi Bem Johnson, o autor de Volpone, or the Fox, hoje conhecido apenas como Volpone, admirável comédia ainda representada com sucesso e convertida em filme. Muitos outros autores importantes surgiram, mas o teatro inglês não tardou a sofrer um grande golpe com a guerra civil que colocou no poder Oliver Cromwell. Os puritanos, que viam o teatro com maus olhos, conseguiram fechá-los por uma lei do Parlamento em 1642, permanecendo os artistas teatrais privados de exercer a sua profissão por nada menos de 18 anos!
Bem diversa era a situação do teatro na França onde passou a ser a diversão preferida da corte e da alta aristocracia. Os reis e príncipes protegiam autores e artistas. Isso propiciou o aparecimento de grandes figuras, que deram notável impulso à dramaturgia e à arte teatral francesa. O Cardeal Armand Jean Du Plessis, Duque de Richelieu, que governou a França como o principal ministro de Luís XIII, jovem rei por ele completamente dominado, era um entusiasta das letras e do teatro. Em 1636, a fim de que, bem remunerados, ocupassem o seu tempo em escrever peças teatrais para a corte. A essa altura, um deles, Pierre Corneille, tinha 30 anos de idade e já era autor de algumas comédias, entre as quais A Ilusão Cômica, e de uma tragédia, Medéia, baseada na de Eurípides. Corneille durou pouco tempo em tal função, por ser por demais independente e por alterar ou recusar os assuntos que lhe eram sugeridos. Seu maior sucesso, logo depois de a Ilusão Cômica, foi a peça O Cid, imitada em alguns trechos e, noutros literalmente traduzida do espanhol de Guillén de Castro. Mesmo depois de rompido o seu contrato, esse drama foi representado, por duas vezes, no teatro particular do Duque de Richelieu. Outro grande sucesso de Corneille foi o de Le Menteur (O Mentiroso), em que se valeu da trama e outra peça espanhola, A Verdade Suspeita (La Verdad Sospechosa), de Alarcón. Corneille escreveu também tragédias como Cina, A Morte de Pompeu, uma nova versão e Édipo, etc. Tudo isso lhe valeu ser eleito para a Academia Francesa. Mas depois entrou em declínio, escrevendo peças que não obtiveram o favor público, como Átila e Agesilau. Algumas foram representadas no castelo do Marquês de Sourdéac, no Marais, e outras no Hotel de Bourgogne.
O outro grande dramaturgo da época, Jean Racine, nasceu em 1639, quando Corneille contava 33 anos. Amigo de La Fontaine e de Boileau, poetas que ainda não haviam alcançado a fama, conquistou também a estima de Molière, ator e autor de comédias, que em 1658 se fixara no Palais-Royal, em Paris, com sua companhia, sob a proteção da corte de Luís XIV. O talentoso Jean Racine, aos 25 anos, via ser representada, no Palais-Royal, pela companhia de Molière, a sua primeira peça, A Tebaida, ou Os Irmãos Inimigos. Já na segunda peça, Andrômaca, era Racine reconhecido como um grande dramaturgo e também, como um ingrato, pelo menos por Molière, pois rompera com este e se fora para o Hotel de Bourgogne, para lá levando a melhor atriz do Palais-Royal, Mlle. Du Parc, de quem se tornara amante. Mais, ainda: quando Molière começou a ensaiar a peça de Corneille, Tito e Berenice, Racine resolveu escrever a peça Berenice, sobre o mesmo assunto (os amores do imperador romano com a filha de Salomé e sobrinha de Herodes), levada à cena uma semana depois daquela. A rivalidade entre Racine e Corneille animou bastante o teatro francês da época. Outra das tragédias de Racine, Britannicus, ainda hoje representada, teria exercido forte influência sobre Luís XIV, através da severa crítica às veleidades artísticas de Nero, um dos personagens da peça. Depois disso, o rei deixou de se apresentar nos balés e outros divertimentos da corte, em que tinha o capricho de se exibir. Voltando para o mundo antigo, Racine escreveu peças como Alexandre, Esther, Mitríades, Fedra, Ifigênia em Áulida, etc. E só uma vez escreveu uma comédia, sobre tipos franceses contemporâneos, Les Paideurs (Os Litigantes), também em versos, com seus dramas e comédias

O Primado da Comédia

Contemporâneo de Molière, mas com mais longa vida (nasceu em 1600 e morreu em 1681), o espanhol Pedro Calderón de la Barca foi o grande continuador de Lope de Vega. Como este, teve uma vida de aventuras e termina seus dias como padre católico. Mas, antes disso, foi dramaturgo da corte de Filipe IV, de quem recebeu um título de fidalgo, com direito ao tratamento de Dom Pedro. Escreveu uma centena de comédias longas e algumas centenas de peças curtas, de cunho religioso, chamadas autos sacramentales. Entre suas obras mais famosas estão O Grande Teatro do Mundo, A Ceia de Baltazar, O Alcaide de Zalamea, A Vida é um Sonho, O Mágico Prodigioso e O Médico de sua Honra.
Jean-Baptiste Pequelin, nascido em 1622, filho de um estofador e tapeceiro, desviou-se das atividades paternas para adotar a profissão de comediante e se tornou famoso em todo o mundo como Molière, nome da pequena cidade em que representou pela primeira vez e que escolheu como pseudônimo. Ator cômico, por excelência, a falta de repertório adequado ao seu talento o levou a refundir e compor peças divertidas e movimentadas. Escrevendo ora em versos, como Corneille e Racine, ora em prosa, legou ao teatro francês verdadeira obras-primas, com toda uma galeria de tipos admiravelmente bem desenhados, tais como Tartufo, Harpagão, Alceste, etc. Protegido pelo irmão do rei, começou a se apresentar no Teatro Petit-Bourbon, no Louvre, e depois no Palais-Royal, em dias alternados, pois aí também eram dados espetáculos de Commedia dell'Arte, cuja companhia era liderada por Tibério Fiorelli, um famoso Scaramouche, ou Scaramuccia. Em Paris, a primeira de suas peças, que Molière ousou repreentar, foi a farsa Le Docteur Amoreux (O Médico Apaixonado), que obteve sucesso imediato. Depois do fracasso de uma tragédia de Corneille, intitulada Nicomedes, Molière apresentou, no mesmo programa, duas outras peças suas, L'Étourdi, ou Les Contretemps (O Estouvado, ou Os Contratempos) e Le Dépit Amoureux (O Despeito Amoroso). Tentou a tragédia, com uma peça de assunto espanhol, Don Garcia de Navarra, mas fracassou, porque o seu domínio era o da comédia e da farsa. Em 1664, escreveu para uma festa em Versalhes Le Mariage Forcé (O Casamento Forçado, em que o próprio rei, Luís XIV, tomou parte, no papel de um cigano (isso aconteceu cinco anos antes da encenação de Britannicus, de Racine). Entre as peças mais famosas de Molière estão O Misantropo, O Avarento, As Preciosas Ridículas, O Burguês Gentil-Homem, Tartufo, Escola de Mulheres, Escola da Maridos, O Doente Imaginário e Les Femmes Savantes (conhecida na tradução portuguesa como As Sabichonas. Molière morreu a 17 de fevereiro de 1673, aos 51 anos de idade, ao fim de uma representação de O Doente Imaginário. Sua influência se estendeu a todo o mundo ocidental, onde o seu teatro continua a ser até hoje representado. Molière abriu caminho à popularização do teatro, com suas comédias e farsas, de esfuziante comicidade.


TEATRO NA INGLATERRA

Tem seu auge de 1562 a 1642.
Mistura sistemática de sério e cômico.
Abandono das unidades aristotélicas e classicas.
Temas, tirados da mitologia, da literatura medieval e renascentista e da história.
O maior nome do período é de william shakespeare.


William Shakespeare 
WILLIAM SHAKESPEARE
Ser ou não ser - eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz, ou pegar-me em armas contra o mar de angústias - e, combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer; dormir; Só isso. E com sono - dizem - extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável.
Morrer - dormir - dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa


Teatro Renascentista 

Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu repouso com um simples punhal?
Quem agüentaria fardos gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma coisa após a morte - o país não descoberto, de cujos confins não voltou jamais nenhum viajante - nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos para outros que desconhecemos?

Teatro Renascentista 

E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.
Hamlet, Ato III, cena 1

sexta-feira, 25 de março de 2011

A dança no Renascimento







A dança inspirava a arte no renascimento e nos séculos seguintes Edgar Degas - Exame de Dança
 

    Nessa época, na França e na Itália a arte renasceu: um movimento cultural, denominado de Renascimento na França e de Quattrocento na Itália foi o responsável pelo desligamento da arte com a Igreja e pelo desenvolvimento de uma sociedade que valorizava e arcava com os custos da arte. A burguesia, uma classe de comerciantes que enriquecia facilmente, crescia aos poucos, mostrando-se uma classe liberal e revolucionária. A Nobreza, por sua vez, cultuava o comportamento refinado, buscando a "arte de viver com elegância".
    Nesse terreno extremamente fértil para o desenvolvimento e os estudos das artes, o intercâmbio entre os dois países foi intenso, o que favoreceu ainda mais e diversificou esses movimentos. A dança de corte assinalava uma nova etapa: aquela dança metrificada que havia se separado das danças populares se tornou uma dança erudita, onde os participantes tinham que saber, além da métrica, os passos.
    Com isso, surgem os profissionais e mestres, que estudavam as possibilidades de expressão do corpo e conseqüentemente elevavam o nível técnico das danças. É importante lembrar também que eram pessoas que dedicavam muito mais de seu tempo para a dança do que aqueles que apenas dançavam por diversão. Os professores eram pessoas altamente valorizadas nas cortes, sendo convidados especiais em todas as festas e respeitados pelas famílias. Eles chegavam a assumir o papel de pais e chefes de família nas apresentações das noivas a suas futuras famílias, pois esses eventos eram feitos sob a forma de um ballet mudo. 






Edgar Degas - A Bailarina de Quatorze Anos
 

    Ainda nessa época, foram escritos os primeiros livros sobre a dança. O primeiro deles teria sido "Il perfetto Ballerino", de Rinaldo Rigoni, imprimido em Milão em 1468. Infelizmente, essa obra não existe mais. O mais antigo livro sobre dança que temos atualmente é "L'art et Instruction de bien danser...", editado por Michel Toulouze em Paris, de 1496 a 1501.
    Das escrituras antigas, a que melhor nos retrata a dança do Quattrocento é um manuscrito de Domenico da Piacenza, que está atualmente na Biblioteca nacional de Paris. Ele retrata uma gramática do Movimento, baseada em cinco elementos constituintes da dança: métrica, comportamento, memória, percurso, aparência. É importante lembrar que esses termos não têm o mesmo significado exato de hoje. Uma segunda parte desse manuscrito enumera os passos fundamentais, dentre os quais temos os passos simples e duplos, a volta e a meia-volta (que não eram em meia-ponta), os saltos, os battements de pés e as mudanças de pés.
    No cinquecento (séc. XVI), como poderíamos esperar, a evolução rumo a uma técnica mais apurada prosseguiu. Dois autores foram responsáveis por esse desenvolvimento: Cesare Negri e Marco Fabrizio Caroso. O primeiro escreveu um tratado com cinqüenta e cinco regras técnicas, descrições coreográficas e novos passos, como o trango (meia-ponta) e o salto da fiocco, uma espécie de jeté que girava. Sua mais importante contribuição foi a introdução do piedi in fuore, o início do en dehors. O segundo apresenta em seu tratado a pirueta e passos que deram origem ao pas de bourré e ao coupé (fioro e groppo, respectivamente). As obras que se seguiram apresentam 68 tipos de passos com relevés.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Renascimento e a Música

Num breve destaque às principais características e transformações da música na Renascença, primeiramente se pode dizer que foi uma era em que se desenvolveu e se valorizou extremamente a polifonia vocal, já que a grande maioria da música deste período foi composta pensando em vozes independentes organizadas verticalmente por regras de consonância e dissonância, regras de contraponto, e a própria polifonia erudita - escrita e teórica - se desenvolveu a partir do canto (organum). Além disso, o pensamento dessa época foi extremamente influenciado pela filosofia clássica que valorizava muito a união entre música e palavra - o canto.
A polifonia existia desde a Idade média. No entanto, no século XIV surge um novo estilo de composição na França, a Ars Nova, caracterizado por seus ritmos e inflexões melódicas complexos e pela preferência ao uso dos intervalos de terças e sextas (consonâncias imperfeitas) em tempos fortes e movimentos paralelos. Percebese na música francesa e italiana um sentido harmônico, principalmente na prática da música ficta, em que algumas notas eram alteradas para modificar o caráter de certos intervalos em cadências e tratamento do trítono, por exemplo.
No século XV, uma técnica de composição inglesa afeta toda a composição, é chamada de fauxbourdon. Esta era uma composição a duas vozes que evoluíam em sextas intercaladas com oitavas, às quais eram acrescentadas uma terceira voz que movia-se uma quarta abaixo da voz soprano. Deste modo, propunha uma sonoridade homofônica dando ênfase à voz aguda.
O século XVI é marcado por influências do pensamento clássico na música, que concebe a música como força que educa e incita as paixões do homem, além de dar extremo valor às palavras que a compõem, uma vez que música e poesia era uma coisa só. Sendo assim, os compositores passam a se preocupar com a adaptação da música ao texto e utilizam para isto, modos que correspondem e expressão diversos estados de espírito.
No início desse mesmo século, a música impressa surge como atividade comercial e, em todo o período, a música instrumental adquire maior importância. Os instrumentos de corda dedilhada foram muito apreciados na Renascença e participavam ativamente no repertório musical da época. Dentre os vários instrumentos da época, dois foram muito populares: o alaúde e a vihuela.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Filosofia


A Renascença é uma poderosa afirmação, particularmente no campo da prática, de humanismo e de imanentismo, o que é manifestado pelo seu individualismo, pelo seu estetismo, pelo seu ardente interesse pelo mundo a conquistar, dominar, gozar com meios humanos; pelo seu naturalismo que diviniza o homem material - como já aconteceu no paganismo antigo, para o qual o Humanismo, de fato, apela, e de que parece um retorno. Entretanto, falta ao Humanismo moderno a espontaneidade e a serenidade do paganismo antigo: o Humanismo moderno não descansará em um tranqüilo gozo da vida, mas procurará alimento no ativismo agitado e sem meta, característico da idade moderna.
O Humanismo pode, com razão, definir-se pela palavra: o homem potenciado, celebrado, exaltado até à divindade, livre de si mesmo, dominador da natureza, senhor do mundo. É, logo, um paganismo ainda mais radical que o antigo, porquanto espiritual e interior. Dar uma documentação formal desse caráter pagão, imanentista, do Humanismo e da Renascença não é coisa fácil, pois trata-se de um período inicial, em que se entretecem motivos multíplices, e, sobretudo, o velho persiste ao lado do novo, dando origem àquela duplicidade especulativa e prática, tão característica dos homens da época.
Mas o início do Humanismo e da Renascença é rico de todos os germes que se desenvolverão no sucessivo período moderno, imanentista, em que se poderá claramente conhecer a árvore pelos frutos. É uma multiplicidade de motivos indiscutivelmente dominada pelo espírito panteísta do neoplatonismo, que atravessou toda a Idade Média; entretanto, na Idade Média, tal espírito era corrigido, religiosamente, pela teologia católica e, racionalmente, pela escolástica tomista. É uma dualidade composta de velho e de novo, em que não será difícil separar o elemento interior do elemento exterior: se se considerar, em geral, o ideal da vida daquela época, que chamava virtude a força, e enaltecia não o Pobrezinho de Assis e sim o Príncipe Valentino; se se tiver presente Nicolau Machiavelli, que - sem possuir uma metafísica consciente - está persuadido de que o Estado, mera obra do homem, é o vértice da humanidade, estando acima da religião e da moral transcendente, e prefere o paganismo ao cristianismo; se se pensar em Giordano Bruno, o maior filósofo da época, o qual parece reconhecer a obscuridade e a incoerência do seu pensamento, mas tem consciência de que a sua doutrina - racionalista, monista e humanista - é um crepúsculo preludiando o dia e não a noite.
Essa é a alma, o significado, não o valor, do Humanismo e da Renascença: uma alma pagã. Não há, ao lado do humanismo pagão, um humanismo cristão, que seria uma contradição em termos. Esses elementos são essencialmente formais e estéticos porque a grande valorização cristã da civilização clássica - do pensamento grego e do jus romano - era já um fato consumado. E os elementos novos do humanismo - a ciência, a técnica, a história, a política - não se podem dizer imanentistas antes que cristãos, pois, em si mesmos, são infrafilosóficos, e, portanto, indiferentes a qualquer concepção da realidade.
O renascimento cristão, a unidade real e potencial dos grandes valores da civilização no valor sumo da religião, não é obra dos séculos XV e XVI, mas do século que se abre com Inocêncio III e se encerra com Dante, e viu Francisco de Assis e Antonio de Lisboa, Domingos de Gusmão e Tomás de Aquino.

terça-feira, 22 de março de 2011

O Renovamento das Antigas Escolas Filosóficas.


Uma das manifestações características da Renascença é o renovamento das antigas escolas filosóficas, clássicas, gregas. Na Idade Média o pensamento clássico foi bem conhecido e valorizado. No entanto, tal conhecimento e valorização diziam respeito aos maiores filósofos gregos, em especial a Aristóteles.
Na Renascença, ao contrário, volta-se à sanctaantiquitas, em oposição ao espírito cristão. E valorizam-se as antigas escolas filosóficas, realçando-lhes o conteúdo de humanidade, presente em todas elas, não obstante a variedade de suas orientações. Naturalmente não são, nem podiam ser, as escolas filosóficas clássicas em sua espontaneidade original, pois, entre a classicidade e a Renascença, medeiam quinze séculos, profundamente influenciados pela mensagem cristã. E, após o aparecimento da Cruz, já não é mais possível o retorno à serenidade clássica de Aristóteles ou ao ascetismo imanentista dos estóicos.
Na Renascença são representadas, mais ou menos, todas as escolas filosóficas antigas: o platonismo, o aristotelismo, o estoicismo, o epicurismo, o ceticismo e o ecletismo. Especialmente as duas primeiras e, entre estas, precipuamente a primeira. O aristotelismo da Renascença exclui, naturalmente, a interpretação de Aristóteles dada por Tomás de Aquino, e sustenta ou a interpretação naturalista de Alexandre de Afrodísia, ou a panteísta de Averroés. O platonismo é, mais propriamente, neoplatonismo: já porque assim se tinha fixado na antigüidade e neste sentido influenciara toda a Idade Média (pseudo Dionísio Areopagita, ScotoErígena, Mestre Eckart); já porque a sua fundamental concepção panteísta e o seu potenciamento do espírito humano podiam melhor corresponder ao imanentismo e humanismo da Renascença. 

O Platonismo
O ídolo da Renascença é Platão: artista e dialético, teórico do amor e da beleza, iniciador da ciência matemática da natureza. Em 1404 Leonardo Bruni aretino (1369-1440) publicava a primeira tradução parcial de Platão, iniciando, destarte, a renascença platônica. Em 1429 o camaldulense frei Ambrósio Traversari, de volta de Constantinopla, levava para a Itália o conjunto completo dos escritos platônicos.
Entretanto foi o Concílio de Florença (1439) que deu um impulso decisivo aos estudos platônicos na Itália ¾ bem como aos estudos aristotélicos e dos filósofos clássicos, em geral. Esse Concílio foi convocado para a união da igreja grega com a igreja latina, e chamou para a Itália vários doutores orientais, conhecedores profundos de Platão. Outros vieram pouco depois, devido à queda de Constantinopla (1453) em mãos dos turcos. Famoso é Jorge GemistosPleton (1355-1450), autor da obra Sobre a Diferença da Filosofia Platônica e Aristotélica, que, realmente, é uma polêmica antiaristotélica.
Esse escrito provocou uma resposta violenta ao aristotélico Jorge de Trebizonda (ComparatioPlatonisetAristotelis). Este filósofo - apelando também para Tomás de Aquino - sustenta a superioridade de Aristóteles sobre Platão pelo seu espírito científico, pela sua doutrina em torno de Deus e da alma, e pela conseqüente possibilidade de concordar a sua filosofia com o cristianismo.
Da parte platônica, replicou contra Jorge de Trebizonda o seu concidadão Basílio Bessarione (1403-1472) com o escrito In calumniatoremPlatonis. Bessarione, eminente prelado da igreja oriental, veio para a Itália com o séqüito do imperador João VII Paleólogo, para tratar da unificação da igreja grega com a igreja latina. Foi feito cardeal pelo Papa Eugênio IV e permaneceu na Itália, cooperando eficazmente para o incremento do ressuscitado helenismo.
Depois desse platonismo de importação oriental, na Segunda metade do século XV surge e firma-se um platonismo italiano. O centro foi precisamente Florença, onde foi celebrado o famoso Concílio. Seu principal representante foi Marsílio Ficino, animador da célebre academia platônica florentina. Esta academia nasceu graças a um cenáculo de literatos, artistas e pensadores, amigos da casa De Médicis. Fizeram parte deste cenáculo Poliziano, Pulci, João Pico dellaMirandola e o próprio Lourenço, o Magnífico.
Marcílio Ficino nasceu em 1433 em FiglineValdarno. Protegido por Cosme De Médices, que o presenteou com uma Quinta, onde teve sua sede a academia platônica, pode consagrar toda a sua vida aos prediletos estudos filosóficos. Em 1473 foi ordenado padre e a sua vida foi muito austera no meio de Florença do século XV. Faleceu em 1499.
Sua atividade principal foi traduzir. Traduziu elegantemente, para o latim, Platão (1477) e Plotino (1485), além de outros neoplatônicos. Expôs o seu pensamento em uma grande obra (Theologiaplatonica de immortalitateanimorum - 1491), em que procura concordar o platonismo, de que era entusiasta, com o cristianismo, em que acreditava seriamente. Entretanto não foi um metafísico, mas um eclético e suas finalidades eram morais. Sua idéia animadora é a exaltação do homem como microcosmo, síntese do universo: conceito antigo, neoplatônico, mas que teve no humanismo do Renascimento um valor e um significado particulares. Outra idéia sua inspiradora é o conceito de uma continuidade do desenvolvimento religioso, que vai desde os antigos sábios e filósofos - Zoroastro, Orfeu, Pitágoras, Platão - até o cristianismo: expressão do universalismo religioso da Renascença.
Depois de Marsílio Ficino, o mais famoso platônico pode ser considerado João Pico dellaMirandolla (1463-1494), autor de Dedignitatehominis, que professa verdadeiramente um ecletismo baseado no platonismo e no cabalismo. Dotado da mais vasta e heterogênea cultura, após várias peregrinações, estabeleceu-se em Florença junto de Lourenço, o Magnífico. Aí entrou em contato com Marsílio Ficino, que influiu no seu temperamento exuberante e passional, equilibrando-o filosófica e religiosamente. "Blasonava de poder disputar de omnirescibili - escreve Franca - e foi tido por seus contemporâneos como um prodígio de memória. Aos 18 anos sabia 22 línguas"!

O Aristotelismo
Não é sempre fácil distinguir o aristotelismo do platonismo da Renascença, porquanto, freqüentemente, aparecem confusos no sincretismo neoplatônico, que é a tendência especulativa dominante na época. Também o aristotelismo, como o platonismo, teve impulso, graças aos sábios gregos vindos para a Itália, tradutores de Aristóteles e dos seus comentadores, entre os quais lembramos, no século XV, Teodoro de Gaza e o já mencionado Jorge de Trebizonda.
Como já foi dito, o aristotelismo da Renascença se distingue em duas correntes principais: a naturalista inspirando-se em Alexandre Afrodísio, e a panteísta-neoplatônica, inspirando-se em Averroés, ambas contrárias à interpretação tomista-cristã. Prevalece a escola alexandrina, cujo imanentismo naturalista é mais conforme ao espírito do Renascimento. A escola averroísta, entretanto, considerando o intelecto humano como sendo a atividade de uma essência transcendente e divina, contrasta o humanismo imanentista da mesma Renascença.
O mais famoso entre esses novos aristotélicos é Pedro Pomponazzi ,alexandrista, nascido em Mântua em 1462, professor de filosofia nas universidades de Pádua, Ferrara e Bolonha, onde faleceu em 1525. É célebre o seu opúsculo Sobre a Imortalidade da Alma, publicado em Bolonha em 1516. Neste opúsculo conclui em favor da mortalidade da alma, sustentando que esta realiza o seu fim último na vida terrena. Para conciliar, pois, esse seu racionalismo com a religião cristã, recorre a certas distinções que relembram a velha teoria averroísta das duas verdades: a religião é, no fundo, justificada como sendo a filosofia do vulgo, para finalidade prática e pedagógica.
Respondiam a Pomponazzi, Nifo (averroísta) e Contarini (tomista) com dois ensaios tendo o mesmo título (Sobre a Imortalidade da Alma); e Pomponazzi replica como uma Apologia (contra Contarini) e com um Defensorium (contra Nifo). Nem a morte pôs termo àquela polêmica.
O aristotelismo teve, na Renascença, uma fortuna especial no campo da estética, da poética, em torno de que se disputou longa e fervidamente, em especial por parte dos literatos. Parte-se da Poética de Aristóteles, cuja primeira tradução remonta ao ano de 1498, por obra de Jorge Valla. Aristóteles sustentara ser a arte - bem como a história - uma imitação da realidade. Entretanto, a arte é superior à história, porquanto tem como objeto o universal, o necessário, a essência das coisas; ao passo que a história tem como objeto o particular, o contingente, o acidental. Em torno deste tema se travam as disputas mais variadas.

O Estoicismo
O espírito autônomo da Renascença devia provar viva simpatia para o sábio estóico, impassível, dominador das coisas e dos eventos. O estoicismo não foi apenas objeto de admiração cultural, literária, mas tornou-se ideal de vida moral em lugar do cristianismo, escola de energia e de conforto.
O estoicismo da Renascença, porém, é preso pela ação, diversamente do estoicismo clássico, negador da ação, considerada causa de perturbação. O estoicismo renascentista enaltece o homem, a vida, o mundo, contra a concepção transcendente e ascética cristã. Seja como for, a moral estóica, mais ou menos ajustada ao cristianismo, desfrutou de grande favor junto dos filósofos das mais diferentes tendências nos séculos XVI e XVII. O estóico mais notável da Renascença foi o belga Justo Lípsio (1547-1606), professor em Lovaina, autor de DeConstantia, e de Manuductio ad stoicamphilosophiam.

O Epicurismo
O epicurismo, melhor do que o estoicismo, condizia com o espírito humanista, imanentista e mundano da Renascença, em especial na vida gozadora e requintada, voluptuosa e artística da cortes esplêndidas da época, e também na literatura e no pensamento. João Boccaccio, autor do Decamerone, em o século XIV, e Lourenço, o Magnífico, no século XV, são duas expressões práticas desse espírito epicurista.
O expoente mais notável dessa tendência epicurista é Lourenço Valla (1407-1459), autor do famoso livro De voluptateac de vero bono, onde o autor compara a moral estóica e a epicurista, simpatizando, naturalmente, com esta última. Quanto à vida futura, Valla oscila entre a sua negação e uma representação no sentido hedonista, e tente, uma certa conciliação entre epicurismo e cristianismo; mas fica decididamente hostil ao ascetismo, quer cristão, quer estóico.

O Ceticismo
Também o ceticismo da Renascença foi inspirado pelo ceticismo clássico. E também este novo ceticismo renascentista surgiu mais por fins práticos do que por motivos teoréticos. Os motivos mais específicos que deram origem ao ceticismo da Renascença foram: a sede do individual, da concretidade; a paixão pela observação detalhada própria do pensamento moderno em geral, em oposição ao pensamento antigo e medieval, voltados para o universo e o abstrato; a variedade e o contraste das diversas escolas e tradições (filosóficas e religiosas); a mentalidade literária da época, apaixonada pela estética, e incapaz de levantar grandes construções sistemáticas; a religiosidade persistente, que julgava salvar a fé deprimindo a razão, tendo esta atacado, freqüente e violentamente, a religião; o contraste entre a exigência religiosa e o paganismo da vida que surgia de novo. O ceticismo da Renascença tem seus maiores expoentes fora da Itália, e o maior é Montaigne.
Miguel de Montaigne (1533-1592), francês, é o autor dos famosos Essais: "Que sais-je"? O seu interesse é voltado para o estudo do eu, não como substância espiritual, e sim como caráter, centro unitário das mais variadas experiências humanas. Tudo o mais lhe parece incerto: os sentidos enganam-nos, a razão perde-se num labirinto infindo, a moral varia conforme os tempos e os lugares. Daí a necessidade da fé, mas de uma fé em que Deus serve ao homem. Este - como já pensavam os céticos antigos - atinge a paz abandonando-se à diretriz da natureza. O que especialmente emerge em Montaigne é o individualismo da Renascença.

domingo, 20 de março de 2011

SANDRO BOTTICELLI

Florença - Itália

Alessandro di Mariano Filipepi, mais conhecido como Sandro Botticelli (Florença, 1º de março de 1445 - 17 de maio de 1510), foi um pintor italiano da Escola Florentina no começo do Renascimento. Sua vida foi narrada na obra Vite (traduzida como "As Vidas dos Artistas"), de Giorgio Vasari. Sua arte foi influenciada por artistas importantes, como Fra Filippo Lippi e Antonio Pollaiuolo.

Nascido em Florença, na popular rione de Ognissanti, aprendeu inicialmente ourivesaria com seu irmão e depois foi aprendiz de Fra Filippo Lippi, e com ele aprendeu a arte de Masaccio. Também estudou com Andrea del Verrocchio, entre 1467 e 1470, na mesma época em que com ele estudava Leonardo da Vinci.

Em 1470, abriu seu próprio estúdio independente. Nesse ano, foi encarregado de pintar o quadro A Coragem, que seria colocado no Tribunal do Palácio do Mercado.

Dedicou boa parte da carreira às grandes famílias florentinas, especialmente a Família Médici, para os quais pintou retratos. Entre tais obras, destacam-se: Retrato de Giuliano de Medici e A adoração dos Magos. O último rendeu-lhe a admiração e atenção da Família Médici, que o colocou sob sua proteção e patronato. Seus contatos com a Família Médici foram sem dúvidas úteis para que obtivesse proteção e condições para que produzisse várias de suas obras-primas.

Participou dos círculos intelectual e artístico da corte de Lourenço de Médici, recebendo a influência do neoplatonismo cristão lá presente, o qual pretendeu conciliar com as idéias clássicas. Tal síntese expressa-se em A Primavera e O Nascimento de Vênus, ambas realizadas sob encomenda para enfeitar uma residência dos Médici e que hoje estão expostas na Galeria Uffizi, em Florença, na Itália. Até hoje não há consenso na interpretação dessas pinturas, embora creia-se que Vênus pode ser vista como símbolo do amor tanto cristão como pagão.

Nesta linha pagã, destacam-se também a série de quatro quadros Nastagio Degli Onesti, produzidos em 1483, nos quais o artista recria uma das histórias do Decameron, de Boccaccio. Também pintou diversos quadros de temática religiosa, como A Virgem Escrevendo O Magnificat (1485); A Virgem de Granada (1487) e A Coroação da Virgem (1490), todas expostas na Galeria Uffizi, e Virgem com o Menino e Dois Santos (1485), exposta no Staatliche Museen, em Berlim.

Em 1472 ingressou na Companhia de São Lucas, uma fraternidade dedicada à caridade gerida por artistas. No ano seguinte, Botticelli foi chamado a Pisa, para pintar um fresco na catedral da cidade (essa obra foi perdida pelo desgaste do tempo).

Em 1481 esteve em Roma, para participar dos trabalhos na Capela Sistina, onde pintou os frescos As Provações de Moisés; O Castigo dos Rebeldes e A Tentação de Cristo.

Em 1505, fez parte do Comitê Florentino, organizado para decidir onde seria colocado o Davi de Michelangelo.

Na temática religiosa destacam-se também: São Sebastião (1473 e um afresco sobre Santo Agostinho. Na década de 1490, quando os Médici foram expulsos de Florença, Botticelli passou por uma crise religiosa e tornou-se discípulo do monge beneditino Girolamo Savonarola, que pregava a austeridade e a reforma, mas Botticelli jamais deixou Florença.

Nessa nova fase destacam-se: Pietà (princípios da década de 1490), A Natividade Mística (década de 1490), e A Crucificação Mística (c. 1496). Todos expressam intensa devoção religiosa e representam certo retrocesso no desenvolvimento de seu estilo.

sábado, 19 de março de 2011

O Nascimento de Vênus

Artista - Sandro Botticelli
Ano - 1483
Tipo - têmpera sobre tela
Dimensões - 172.5 cm × 278.5 cm
Localização - Galleria degli Uffizi, Florença



O Nascimento de Vénus é uma pintura de Sandro Botticelli, encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici para a Villa Medicea di Castello.
A obra está exposta na Galleria degli Uffizi, em Florença, na Itália. Consiste de têmpera sobre tela e mede 172,5 cm de altura por 278,5 cm de largura.
A pintura representa a deusa Vênus emergindo do mar como mulher adulta, conforme descrito na mitologia romana.
É provável que a obra tenha sido feita por volta de 1483, sob encomenda para Lorenzo di Pierfrancesco, que a teria pedido para enfeitar sua residência, a Villa Medicea di Castello. Alguns estudiosos sugerem que a Vênus pintada para Pierfrancesco, e mencionada por Giorgio Vasari, teria sido outra que não a obra exposta em Florença e estaria perdida até o momento.
Alguns acreditam que a obra seja homenagem ao amor de Giuliano di Piero de' Medici (que morreu em 1478, na Conspiração dos Pazzi) por Simonetta Cattaneo Vespucci, que viveu em Portovenere, uma cidadela à beira-mar. Qualquer que tenha sido a inspiração do artista, parecem haver influências de obras como a "Metamorfose" e "Fasti", ambas de Ovídio, e "Versos", de Poliziano.

No quadro, a deusa clássica Vênus emerge das águas em uma concha, sendo empurrada para a margem pelos Ventos D'oeste, símbolos das paixões espirituais, e recebendo, de uma Hora (as Horas eram as deusas das estações), uma manto bordado de flores. Alguns especialistas argumentam que a deusa nua não representaria a paixão terrena, carnal, e sim a paixão espiritual. Apresenta-se de forma similar a antigas estátuas de mármore (cujo candor teria inspirado o escultor do século XVIII Antonio Canova), esguia e com longos membros e traços harmoniosos.
O efeito causado pelo quadro, no entanto, foi um de paganismo, já que foi pintado em época em que a maioria da produção artística se atinha a temas católicos. Por isso, chega a ser surpreendente que o quadro tenha escapado das fogueiras de Savonarola, que consumiram outras tantas obras de Botticelli que teriam "influências pagãs".
A anatomia da Vênus, assim como vários outros detalhes menores, não revela o estrito realismo clássico de Leonardo da Vinci ou Rafael. O pescoço é irrealisticamente longo e o ombro esquerdo posiciona-se em ângulo anatomicamente improvável. Não se sabe se tais detalhes constituiram erros artísticos ou licença artística, mas não chegam a atrapalhar a beleza da obra, e alguns chegam a sugerir que seriam presságios do vindouro Maneirismo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Vénus e Marte


A deusa do amor, Vénus, venceu Marte, o deus da guerra e da violência: enquanto ele está mergulhado num sono profundo, ela observa-o com atenção e segurança para o manter sob controlo.
Se procurarmos o significado profundo da imagem, parece que o seu autor, Sandro Botticelli (1445-1510), quis representar a ideia do amor que havia sido desenvolvida na corte dos Médicis pelo filósofo Marsílio Ficino e que concebia esse amor como uma dualidade composta por um desejo físico terreno e por uma aspiração espiritual que tendia para Deus. Ficino descrevia a diligência humana como o esforço constante para passar da paixão sensual ao desejo espiritualizado do conhecimento e de luz na união com Deus.
O quadro ilustra o triunfo da deusa do amor sobre o deus da guerra, que ela desviou dos seus afazeres bélicos. Mas não se trata tanto da vitória do amor sobre a violência guerreira, como a derrota do desejo sensual perante um amor de Deus guiado pelo desejo de saber. Marte simboliza aqui, enquanto deus da guerra, o desejo violento. Contrariamente a Vénus, ele surge representado quase nú. Em Vénus, pelo contrário, esta aspiração sensual foi superada. Ela está vestida com um peplo debruado e preso no peito por uma jóia composta por pérolas, onde se deve ler o símbolo da castidade.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A Primavera



Artista - Botticelli
Ano - t. 1482
Tipo - têmpera sobre madeira
Dimensões - 203 cm × 314 cm
Localização - Galeria Uffizi, Florença


A Primavera (c. 1482), também conhecido como "Alegoria de Primavera", é um quadro de Botticelli que utiliza a técnica de têmpera sobre madeira. O quadro é descrito na revista "Cultura e Valores" (2009) como "um dos quadros mais populares na arte ocidental". É também, segundo a publicação "Botticelli, Primavera" (1998), uma das pinturas mais faladas, e mais controversas do mundo". Enquanto a maioria dos críticos concordam que a pintura, retrata um grupo de figuras mitológicas num jardim (alegoria para o crescimento exuberante da Primavera), outros sentidos também foram dados ao quadro. Entre eles, o trabalho é por vezes citado para ilustrar o ideal de amor neoplatónico.

A história da pintura não é muito conhecida, porém, parece ter sido encomendada por um membro da família Medici. É provável que Botticelli se tenha inspirado nas odes de Poliziano para realizar esta obra. As outras fontes são da Antiguidade: os Faustos de Ovídio e De rerum natura de Lucrécio. Desde 1919, a pintura faz parte da colecção da Galeria Uffizi, em Florença, Itália.


Temática

A Primavera é uma obra de temática mitológica clássica que nos apresenta a alegoria da chegada dessa estação. Ao centro encontra-se Vênus, que media toda a cena. Na tradição clássica, Vênus e o Cupido surgem para avivar os campos, fustigados pelo inverno, iniciando a primavera ao semear flores, beleza e atração entre todos os seres. À direita da obra encontramos três figuras. O primeiro, um ser esverdeado, Zéfiro, personificação do vento oeste, abraça a bela ninfa Cloris. Botticelli a representa em sua metamorfose, quando se transformava em Flora, a figura com vestido florido que cumpre sua função de adornar o mundo com flores. Sobre a cabeça de Vênus está o Cupido, seu filho, de olhos vendados, apontando a seta do amor em direção às três figuras que representam as Graças (Aglaia, Talia e Eufrónsina), símbolos da sensualidade, da beleza e da castidade. Mais à esquerda encontra-se Hermes dissipando as nuvens, fechando esse ciclo mitológico. Para a filosofia platônica, esse ciclo é a ligação ininterrupta entre o mundo e Deus, e vice-versa.

Botticelli concebeu A Primavera sob orientação de Marsílio Ficino, principal representante da filosofia neoplatônica na época, que via Vênus como um ser de dupla natureza: terrestre, ligada ao amor humano, e celestial, ligada ao amor universal, da qual, supõe-se, Botticelli traçou analogia com a Virgem Maria. Tal suposição está embasada nas vestimentas de extremo recato de Vênus, na posição de sua mão direita, que se encontra em um gesto de benção, e, também, por ela estar circundada com um arco rendilhado de folhas com fundo claro, que sugerem a forma de auréola e prenunciam as grinaldas florais que, a partir do século seguinte, estiveram associadas à figura da Virgem.

O Renascimento introduziu a concepção científica do mundo, além de reafirmar com contundência o naturalismo gestado no Gótico. Botticelli utiliza aqui um naturalismo metódico, de caráter científico; a natureza é estudada e não copiada. Afinal, Botticelli teve apoio de membros da Academia Platônica, fundada por Lourenço de Médici, o Magnífico, juntamente com Landini, o tradutor de A Botânica de Plínio, o Velho, para orientar o artista no reconhecimento dos detalhes das diversas plantas e flores, além de suas simbologias.


Composição

A pintura apresenta seis figuras femininas e duas masculinas, juntamente com um anjo de olhos vendados, numa plantação de laranjas. À direita do quadro, uma figura feminina coroada de flores num vestido de estampa floral espalha flores, recolhidas nas dobras do seu vestido. Seu companheiro mais próximo, uma mulher de branco diáfano, está sendo tomado por um homem com asas. Suas bochechas estão inchadas, sua intenção de expressão e contemplação natural separa-o dos restantes. As árvores ao redor dele sopram na sua direcção, assim como a saia da mulher que ele está aproveitando.

Agrupado à esquerda, um grupo de três mulheres também em branco diáfano unem as mãos a dançar, enquanto um jovem coberto de vermelho com uma espada e um capacete levanta um pedaço de madeira levantando algumas finas nuvens de cinza. Duas das mulheres usam colares bem destacados. O cupido a voar tem uma seta voltada para as meninas dançando. Central e um pouco isolada das outras figuras está uma mulher vestida de vermelho e azul com olhar de espectadora. As árvores atrás dela formam um arco quebrado em forma de dois olhos.

A paisagem pastoral é elaborada. "Botticelli (2002)" indica que existem cerca de 500 espécies de plantas identificadas retratadas na pintura, com cerca de 190 flores diferentes.[4] "Botticelli Primavera (1998)" diz que das 190 espécies diferentes de flores retratadas, pelo menos 130 foram designadas especificamente para a pintura.


Origens

A origem da pintura é um pouco obscura. Pode ter sido criada em resposta a um pedido em 1477 de Lorenzo de Medici, ou pode ter sido encomendado por Lorenzo um pouco mais tarde, ou pelo seu primo Lorenzo di Pierfrancesco de Medici. Outra teoria sugere que Lorenzo encomendou o retrato para celebrar o nascimento de seu sobrinho, Giulio di Giuliano de Medici (que um dia se tornaria Papa), mas mudou de ideia após o assassinato do pai de Giulo, seu irmão Giuliano, tendo assim oferecido como um presente de casamento para Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, que se casou em 1482.
O quadro em geral foi inspirado por uma descrição do poeta Ovídio sobre a chegada da Primavera (Fasti, Livro 5, 2 de Maio), embora os detalhes podem ter sido derivadas de um poema de Poliziano. Como o poema de Poliziano, "Rústico", foi publicado em 1483 e que a pintura é geralmente dita de ter sido concluído por volta de 1482, alguns estudiosos têm argumentado que a influência foi revertida. Outra fonte de inspiração para a pintura parece ter sido Lucrécio no poema "Natura Rerum De". Tem sido proposto que o modelo de Vénus foi Simonetta Vespucci, esposa de Marco Vespucci e, talvez, a amante de Giuliano de Medici, que se diz ter sido ele próprio o modelo para Mercúrio.


História

Independentemente da veracidade da sua origem e inspiração, a pintura foi inventariado na colecção de Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, em 1499. Em 1919, foi movido para a Galeria Uffizi, em Florença. Durante a campanha italiana na Segunda Guerra Mundial, a imagem foi transferida para o Castelo de Montegufoni, cerca de dez milhas a sudoeste de Florença, para protegê-lo dos bombardeamentos. Foi devolvido para a Galeria Uffizi, onde permanece até hoje. Em 1982, a pintura foi restaurada. O trabalho tem escurecido consideravelmente ao longo do tempo.